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Autenticidade e depressão – um outro olhar


Autenticidade e depressão – um outro olhar - Gisele Essoudry - Psicóloga

O que depressão tem a ver com ser (ou não) uma pessoa autêntica?


Muitas pessoas convivem com uma constante angústia, a sensação de que estão vivendo uma vida sem sentido. Sentem se vazias, sem objetivos e deprimidas.


Tal situação, com frequência é consequência de uma determinada forma de conduzir a vida.

Seguem no “piloto automático”, desempenhando as atividades rotineiras apenas atendendo as exigências e padrões impostos pela sociedade.


A filosofia aborda esta questão de uma forma muito interessante e pertinente que acredito que pode ajudar desde que você se disponha a refletir e olhar para dentro de si.


O filósofo J. P. Sartre, da corrente filosófica existencialismo, sugere que trilhemos a busca pela autenticidade. Ser autêntico, neste caso, não significa dizer o que pensa, ou ser uma pessoa excêntrica, como acredita o senso comum. Mas consiste basicamente em assumir responsabilidades pelas suas escolhas.


O oposto da autenticidade é a má-fé. A má fé, nesse caso, não é má intenção ou falta de ética, mas é se deixar levar por verdades convenientes. Por exemplo: vender um produto ou serviço que não se identifica, dizer para si mesma que não está prosperando por causa da crise, ficar em um relacionamento só por causa da estabilidade financeira, ou mesmo frequentar determinado grupo ou comunidade pelo status que isso lhe confere.


Não é fácil concluir ou admitir que isso possa estar acontecendo. É necessário profunda honestidade consigo mesmo. Refletir a esse respeito já é um passo para sair da má-fé e caminhar rumo à autenticidade.


O próprio J. P. Sartre entendia que é muito difícil ser realmente autêntico, de modo que ele mesmo colocava em dúvida sua autenticidade. Mas propõe que as pessoas busquem viver de forma autêntica, e evitem a todo custo a má-fé pois esta busca torna a pessoa mais consciente, amplia as possibilidades de tornar a vida mais interessante e de livrar-se dos sintomas tão desagradáveis mencionados no início do texto.


Para dar o primeiro passo nesta busca pela autenticidade, analisemos quais são as atitudes típicas da má-fé. Veja os comportamentos e atitudes opostos a autenticidade.


1 – Atribuir a ansiedade ou depressão a culpa pelos seus insucessos, como se estas fossem entidades a parte, algo vindo de fora e não de produzido pelo psiquismo. Uma vez pensando desta forma, você coloca barreiras e restringe as possibilidades de reverter a situação, afinal a culpa é de algo que foge ao seu controle. É muito comum escutar as pessoas dizendo: “sou assim por causa da minha ansiedade”, “minha vida não muda devido a minha depressão.”


2 – Responsabilizar os pais, a criação, o passado pelo o são hoje. Se não te elogiaram o suficiente, se não incentivaram seus talentos, se seu pai o abandonou, se eles brigavam demais, se bebiam, etc. Não tem como mudar o passado. Eles não tinham a clareza ou condições necessárias para agir de outra forma naquelas circunstâncias. Foi o que puderam fazer, e ponto. Uma citação que retrata bem esta situação:


“O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós (J. P. Sartre).

3 – Culpar a política, a crise, os Estados Unidos, os comunistas, os burgueses, o patrão, a empresa em que trabalha. Ocupar o tempo utilizando as redes sociais para reclamar e criticar.


4 – Determinar um “jeito certo de ser”, de preferência baseando-se em modelos, em outras pessoas, impor uma fôrma para você se adequar. Como esta fôrma é bem diferente de você, passe muito tempo se criticando e cobrando a adequação. Como já dizia o filósofo Nietzsche, “nossa dor vem da distância entre aquilo que somos e aquilo o que idealizamos ser”.


5 – Permanecer em um relacionamento de aparências, fingindo para si mesmo que está tudo bem, não acreditando no que sua percepção ou seu coração detectam.


6 – Trabalhar em algo que não gosta, reclamar e maldizer o trabalho, assim já serve como justificativa pela sua insatisfação ou falta de realização. Ou fingir para você e para os outros que adora este trabalho. Você pode então perguntar: “Qual o problema se não prejudico ninguém e estou ganhando dinheiro de forma honesta? ” Avalie se realmente não está prejudicando o cliente, a empresa, você mesma, e sua família?


O que pode ser assustador é acreditar que há uma necessidade urgente de realizar mudanças se deseja buscar viver de forma autêntica. Por esse motivo, tendemos a evitar a olhar para determinados aspectos na nossa vida pelo medo da mudança, do desconhecido, dos riscos, das responsabilidades.


No entanto, a proposta deste texto está muito longe de partir para medidas radicais ou rompimentos. Mas sim olhar de perto, lidar com estas questões, com estes conflitos e dilemas.


O importante é estar consciente e assumir as suas escolhas. Permanecer na situação e ressignificá-la também é uma opção. O recado final é: pare de arrumar desculpas e de tampar o sol com a peneira!


Quero saber sua opinião sobre o assunto, comentários são bem-vindos!


Fonte de inspiração: Como ser existencialista, Gary Cox


Gisele Ventura Essoudry

Psicóloga, Coach e Orientadora Profissional

CRP 061181106


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